14/05/2015

A velha do Restelo

Estou velha e com falta de paciência para aturar "cenas".
Estou velha e tornei-me demasiado orgulhosa para aceitar a novidade mas, acima de tudo, para dar ouvidos a quem me fala da mudança com entusiamo e brilhozinho nos olhos.
Estou velha e não quero aprender.
Estou velha e apetece-me estar velha porque aos velhos ninguém contradiz.
Estou velha, não tenho papas na língua e excedo-me na utilização de insultos quando bem me dá na gana.

E é por estar velha que te digo, caro Acordo Ortográfico: VAI CAGAR! 

13/05/2015

Isto é um Aviso



Já todos vimos os 13 minutos de agressão gratuita ao rapaz da Figueira da Foz. São 13 minutos que apontam o dedo em várias direcções: aos míudos que nele constam (agressores e agredido), escola que frequentam, Pais que os educam (ou não) e sociedade civil em que estão (des)integrados. 

Depois de ler (alguns, não muitos) comentários e partilhas no meu fb sobre este tema quero acreditar que há Pais melhores do que aqueles que julgamos terem "mal" educado a Constança, a Odete, a Marta e a Inês. Assim como também quero acreditar que os Pais do rapaz agredido são mais preocupados e atentos do que aquilo que faz transparecer. Quero acreditar que há consciência individual em cada uma daquelas cabecinhas adolescentes, apesar da total inconsciência de grupo. Quero acreditar que há comportamentos inexplicáveis, fruto de um mundo de influências. E também quero acreditar que formar psicopatas não é assim tão fácil.

Eu quero acreditar nisto tudo, mas depois "what you see is what you get" e qualquer tentativa em compreender *puff* desaparece como que por magia. 

Fica o aviso: tomemos conta dos nossos filhos para que sejam melhores do que aquilo que acreditamos ser o suficiente!

10/05/2015

A Melhor Mãe do Mundo


Este domingo é dia da Mãe em Itália. Domingo passado foi em Portugal. E por mim podíamos correr o mundo todo, porque habituar-me a receber ramos de flores aos domingos é coisa que não me custa nada. Ser Mãe também foi (e é) coisa à qual tive de-me habituar. Nunca fui, nem acho que alguma vez seja, o género de mulher que nasceu para ser Mãe. O meu instinto maternal não passa disso mesmo: instinto, pois nada que se relacione com a minha filha foi sonhado, racionalizado ou reflectido. É ali tudo instintivamente improvisado. 

Sou uma Mãe despreocupada, sem macaquinhos no sotão. Nunca me preocupou se a minha filha adormecia sozinha ou na cama connosco, não fiz da amamentação um bicho de sete cabeças mas depois de um mês e meio não tive paciência para mais, nunca desesperei com choros, não sigo ementas de pediatra (prefiro ir ao sabor do paladar) e isto para dar alguns exemplos. Sou uma adepta do bom senso, mas sempre aplicado de forma instintiva. Se sinto que faz sentido, então sigo em frente. Fui eu que a pari, logo não existe, para já, quem a conheça melhor!

Isto não quer dizer que não tenha dúvidas, mas são raras as vezes que estou às araras até porque nem tenho paciência para andar a bater com a cabeça nas paredes em relação a um bébé, que supostamente é uma criatura infinitamente mais simples de perceber que eu. A minha Irene puderá até revelar-se uma adulta complexa, mas com quase um ano a coisa não passa muito para lá do sono, da fome, dos cócós, dos xixis, dos brinquedos e de uma forma simples de comunicar todos estes seus desígnios.

Enquanto ela se vai transformando naquilo que será o resultado da minha educação, também eu vou anexando novos inputs à minha personalidade. Ser Mãe não mudou a minha génese, de forma nenhuma, continuo a ser a mesma chata, nariz empinado, despreocupada e gozona de sempre. O que a Irene fez foi tornar-me uma pessoa conscientemente disciplinada. Ou seja, disciplinada com método, horário e acima de tudo consciente dessa disciplina. Tenho mais cuidado com a forma como faço e digo as coisas, porque agora sou um exemplo a seguir. Há um reflexo meu no espelho da alma da minha filha e isso sim é uma enorme responsabilidade!

Ser Mãe fez-me olhar para mim como uma pessoa que ambiciona mais força, mais empenho e mais conquistas. Observo mais, oiço mais, penso muito, falo pouco. Nunca partilhei sentimentos maternais românticos como "sou mais completa desde que sou mãe" ou "ser mãe foi a melhor coisa que me aconteceu". Como adulto já me considerava uma pessoa (de formação) completa antes da Irene nascer e não vou dizer que ter visto a minha santa vidinha toda virada de pernas para o ar com a chegada de um bébé tenha sido a melhor coisa que me aconteceu, porque não seria verdade. 

A Irene veio-me aquecer as veias, isso sim! O meu coração bate mais acelerado desde que ela nasceu. Ela conquista-me todos os dias mais um bocadinho e eu já babo de paixão desmesurada por ela. Ser Mãe acabou (quase) com a cold hearted bitch que vivia domesticada em mim. Vou tendo os meus rasgos de egoísmo mas no geral sou mais tolerante, mais compreensiva, permissiva e até simpática - vai-se lá perceber estas merdas. 

Ser Mãe é ser uma "versão revista" de mim. A parte do "e melhorada" vê-se lá mais à frente, quando a Irene tiver 30 anos e fôr o resultado de tudo o que de bom e de menos bom eu tenha feito por ela. 

Até lá vou sendo um projecto d'A Melhor Mãe do Mundo.

28/04/2015

O Bicho



Escrever sobre o tempo é provavelmente a maior perda de tempo, mas eu estou a sofrer. Há já umas semanas que estou a ser atacada pelo síndrome da ausência de memória metereológica. Para quem não sabe que raio de coisa é esta, eu explico: 
Sabem aquela sensação que vos dá de que a Primavera actual é sempre muuuuuuito mais longa, mais chuvosa, mais fria e com momentos mais WTF que a anterior? Sabem?!? Então já sabem o que é o síndrome de ausência de memória metereológica, também conhecido por "bicho".

As vítima deste bicho primaveril são alérgicas ao frio o que as faz viver uma espécie de constante negação metereológica. É fácil identificar estas vítimas na rua: habitualmente erram sempre no que vestem. Para vos dar um exemplo, calçam sabrinas em plena queda de granizo ou então vestem o clássico casaquinho de malha em cima de uma t-shirt quando as temperaturas oscilam entre os 10 e os 12 graus. São também pessoas que dizem recusar - em tom de orgulho - as previsões metereológicas, sacudindo as mesmas com um habitual "sabem lá estes palhaços o que dizem!"

Assim como o clima que em 24h consegue a proeza de oscilar entre temperaturas tropicais e temperaturas "está um frio do cacete", também as vítimas deste síndrome exteriorizam comportamentos bipolares habitualmente referidos por terceiros como "que raio de bicho é que lhe mordeu!?"

Bom, para terminar, deixo-vos a garantia a pés juntos que o bicho para além de ser uma maleita recorrente todas as primaveras, não tem cura.
Hmmmpf....

23/04/2015

Vegetariana, mas pouco


Diz que sou uma “veg part-time”. Pois é, espantem-se, porque até eu fiquei espantada por já existir uma denominação para a minha dieta alimentar. E é assim que num dia a vida corre na paz do Senhor e no seguinte somos confrontados com a inesperada realidade que afinal fazemos parte de uma tribo...alimentar, ainda por cima! 

Ora parece que as minhas convicções alimentares são, pelo menos em Itália, partilhadas por umas boas centenas de milhar de pessoas a quem a carne desce cada vez menos pelo goto.

Não se pense que sou pessoa de moral elevada o suficiente para deixar de comer carne em defesa da integridade física dos animais – não sou assim tão boazinha -, porque os limites da minha ética jamais me fariam virar costas a um bife na pedra. Mas admito que para digerir um naco de carne, por vezes, o físico parece levar-me mais energia do que aquela que supostamente me deveria dar.

Foi num artigo da “Style” italiana que descobri que esta prática “vegetariana, mas pouco” está a ganhar adeptos. O que em outras palavras significa que está na moda “ser” mais ou menos vegetariano, ou pelo menos, dizer que não se come carne mais que uma vez por mês.

Ou seja, aquilo que deveria ser somente uma consequência de gostar-se ou desgostar-se, ou até de escolha pessoal – por razões éticas ou de funcionamento pessoal do organismo – transforma-se de repente num motivo para ajuízar o alheio: “Olha mais uma pateta que diz que não come carne...punha-lhe uma alheira frita à frente ías ver!” ou “Aquela come carne...assassina de focas bébés!”

A probabilidade da alheira se teletransportar para o meu estômago em nanosegundos é gigantesca, mas a probabilidade de não comer carne nas quatro semanas seguintes a emborcar uma alheira é igualmente elevada.

O artigo para além de expôr escolhas e razões dos famosos, italianos e de gabarito internacional, que haviam modificado os seus hábitos alimentares, excluindo proteínas animais e seus derivados, em full ou part-time, explicava também como se dividia o “emiciclo” do Lobby dos vegetais. Isto há estômagos para tudo. Há quem aceite alguma coisa e há quem pouco ou nada aceite. Há quem escolha os extremos do “emiciclo” – os veganos, os crudistas, os frutarianos, etc – e quem encontre a virtude a meio caminho. Há quem respeite as escolhas dos outros, há quem as condene como se fosse a origem de todo o mal no planeta e há quem se esteja perfeitamente a borrifar para tudo isto. 

Escolher o que queremos porque queremos, porque nos faz sentir bem ou mal, essa sim é a medida. Aqui, a única injustiça e único limite é quando não há escolha.