Diz que sou uma “veg part-time”. Pois é, espantem-se, porque até eu fiquei espantada por já existir uma
denominação para a minha dieta alimentar. E é assim que num dia a vida corre na
paz do Senhor e no seguinte somos confrontados com a inesperada realidade que
afinal fazemos parte de uma tribo...alimentar, ainda por cima!
Ora parece que as minhas convicções
alimentares são, pelo menos em Itália, partilhadas por umas boas centenas de
milhar de pessoas a quem a carne desce cada vez menos pelo goto.
Não se pense que sou pessoa de moral
elevada o suficiente para deixar de comer carne em defesa da integridade física
dos animais – não sou assim tão boazinha -, porque os limites da minha ética
jamais me fariam virar costas a um bife na pedra. Mas admito que para digerir
um naco de carne, por vezes, o físico parece levar-me mais energia do que
aquela que supostamente me deveria dar.
Foi num artigo da “Style” italiana que descobri
que esta prática “vegetariana, mas pouco” está a ganhar adeptos. O que em outras
palavras significa que está na moda “ser” mais ou menos vegetariano, ou pelo menos, dizer que
não se come carne mais que uma vez por mês.
Ou seja, aquilo que deveria ser somente
uma consequência de gostar-se ou desgostar-se, ou até de escolha pessoal – por razões éticas ou de funcionamento pessoal do organismo –
transforma-se de repente num motivo para ajuízar o alheio: “Olha mais uma
pateta que diz que não come carne...punha-lhe uma alheira frita à frente ías ver!”
ou “Aquela come carne...assassina de focas bébés!”
A probabilidade da alheira se
teletransportar para o meu estômago em nanosegundos é gigantesca, mas a
probabilidade de não comer carne nas quatro semanas seguintes a emborcar uma
alheira é igualmente elevada.
O artigo para além de expôr escolhas e
razões dos famosos, italianos e de gabarito internacional, que haviam
modificado os seus hábitos alimentares, excluindo proteínas animais e seus
derivados, em full ou part-time, explicava também como se dividia o “emiciclo”
do Lobby dos vegetais. Isto há estômagos para tudo. Há quem aceite alguma coisa
e há quem pouco ou nada aceite. Há quem escolha os extremos do “emiciclo” – os
veganos, os crudistas, os frutarianos, etc – e quem encontre a virtude a meio
caminho. Há quem respeite as escolhas dos outros, há quem as condene como se fosse a origem de todo o mal no planeta e há quem se esteja perfeitamente a borrifar para tudo isto.
Escolher o que queremos porque queremos,
porque nos faz sentir bem ou mal, essa sim é a medida. Aqui, a única injustiça e único limite é
quando não há escolha.
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