Ato de fingir que se tem qualidades, ideias ou sentimentos que na realidade não se possui.
Sou uma pessoa de
arquivos. Guardo jornais e revistas em datas importantes, quer pela notícia,
quer pela data. Algumas dessas edições devidamente emolduradas ocupam os seus
postos pelas paredes de minha casa. Mas para verem onde isto chega: já fui
assídua da Torre do Tombo...e da Hemeroteca de Lisboa. É provável que me tenha
passado ao lado uma grande carreira de arquivista, menos mal que ficou o
"bichinho" do jornalismo.
Mais que uma mera
profissão, o jornalismo sempre foi um ideal romântico para mim: Respeita-te
a ti mesma, aos outros e ao Jornalismo!
Debitar textos é fácil,
escrever uma reportagem é tão, mas tão difícil. A dificuldade é tal que são
poucos os verdadeiros repórteres, aqueles que respiram imparcialidade, que
defendem as suas fontes com a vida e que habitualmente estão sempre no sítio
errado à hora certa. Eu nunca cheguei a ser a repórter que sonhei um dia ser,
mas enquanto fui jornalista respeitei sempre o meu "métier" e tentei,
na melhor das minhas intenções, fazê-lo respeitando o leitor. Em consciência
pensava "se o leitor não acreditar no que lhe escrevo, dizendo-lhe eu que
é a pura das verdades, então vai acreditar em quem!?"
Hoje, defeito meu, continuo
a ler os jornais como se fossem o último reduto da verdade.
Há uns dias morreram 700
refugiados no Canal da Sicilia. A tragédia fez capa no Jornal i com o título
"Esta vida vale o mesmo que a nossa". Belíssima capa, título
extraordinário. Chamada de atenção a uma tragédia recorrente nos jornais
italianos e na vida quotidiana do Sul de Itália.
Horas depois fico a
saber que a fotografia já tinha sido capa da edição espanhola da revista
"Refugiados" da ACNUR - Agência da ONU para Refugiados em 2007.
Depois de passar os olhos por toda a edição eis-me na ficha técnica da mesma a
tirar a prova dos 9. A
legenda diz "Guardas costeiros resgatam um emigrante ou refugiado ao largo
da Costa Sul de Espanha - Reuters/A.Meres/Esp.2002".
A.Meres aka Tony Meres é
um foto-jornalista que hoje, no
seu blogue, referiu a foto que fez em 2002 como tendo sido utilizada para a
capa do Jornal português.
A capa do Jornal i não
faz referência à realidade factual da imagem em questão.
Não bastava a hipocrisia
de saber que há pelo menos 12 anos que se morre no Mediterrâneo a fugir de
terras madrastas...agora também fiquei a saber que o respeito pela actualidade
não existe e que o desrespeito pelo Arquivo atingiu a imensurabilidade.
Triste capa esta.
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