Excluíndo uma noitada de séries, jogos de
bola ou, na loucura, uma sessão de zapping intenso, ver televisão não é coisa
que nos assista cá por casa. A TV da sala ainda vai dando sinais de vida ao
contrário da TV da cozinha que foi ligada apenas e somente uma vez...em três
anos. Para verem ao que isto chega descobrimos esta semana que a TV da sala
- habitualmente com o som desligado ou no mínimo - tinha o cabo do som
desconectado, vai-se lá saber há quantas semanas.
É quando vou a Lisboa que, inexplicavelmente,
dou por mim sentada no sofá da casa dos meus pais a ver um qualquer programa
televisivo, seja um episódio de novela, telejornal, talk show, enfim o que
houver.
Desta vez um dos programas que vi foi o "Prós
e Contras". O título do debate era sugestivo: "Mexer no
Cérebro". E foi com pena que só apanhei os últimos minutos
dedicados às considerações finais dos convidados - especialistas na matéria -
da Sra Fátima Campos Ferreira. Não sei se o debate foi bom, se valeu a pena,
mas os últimos minutos foram bastante esclarecedores em relação à forma mentis
de alguns "especialistas".
Vestido com um pullover de cachemira (se a
memória não me engana cor azul acizentado) um dos convidados defendia que para
além de todas as influências que tinham sido referidas no programa havia ainda
tanto para falar a respeito da influência do "marketing" nas nossas
mentes. Explicava "marketing" como sendo uma palavra que de forma
muito generalizada englobava tudo aquilo que nos influencia de forma diária em
formato revistas, televisão, blogues, e por aí adiante. O senhor
vestido com o pullover de cachemira deixava assim claro não ter bem
presente a noção de Marketing. Tendo em conta que eram as considerações finais
e o tempo televisivo escasseava dava para perceber as suas intenções ainda que
mancas nos termos. E assim de forma MUUUUUITO generalizada aceitei seguir a sua
linha de pensamento pois parecia-me encaminhada num rumo interessante.
Aprofundando a influência do marketing na
mente humana, eis que o senhor vestido com o pullover de cachemira dá como
exemplo a vertente Moda começando por enunciar uma frase cuja a autoria remete
a Oscar Wilde "A moda é uma coisa tão feia que tem de ser reinventada
de seis em seis meses". Frase que depois de arrancar gargalhadas entre
a audiência lhe deu o mote para discursar sobre a futilidade da Moda
sempre com uma atitude incrédula perante a influência desse circo, dessa feira
de vaidades, desse transtorno inexplicável que faz vender revistas, dessa
ignóbil e totalmente dispensável área para a existência humana. No sorriso de
soslaio que acompanhava as palavras do senhor vestido com o pullover de
cachemira reconhecia-se não só o tom de desprezo em relação à Moda, como
também uma arrogância intelectual lambuzada de citações de escritores e
pensadores.
Já deu para perceber que o discurso
do senhor vestido com o pullover de cachemira me indignou. Pois a bem da
verdade não há coisa que mais me indigne que a prepotência de gente
"doutorada" e "estudiosa" que por via dessas mesmas
capacidades inatas ou treinadas deveriam saber pensar mais ou, pelo menos,
melhor.
Uma pessoa com mais conhecimentos académicos
que a grande maioria que não entende o desenvolvimento humano em todas as sua
vertentes e reduz a Moda ao predicado "fútil", é parvo.
Os atributos da Moda são muitos, vastos e em
última análise espelham a evolução do homem. A Moda definiu Eras, momentos e
personalidades históricas. A Moda ajudou o homem a exteriorizar tradições,
culturas, influências políticas, económicas, sociais e até ideológicas. A Moda
é indústria, é trabalho, é criatividade, é tradição, é artesanato, é design, é
técnica, é desporto, é cor, é arte, é bonito, é feio, é desconcertante, é
harmonia, é futilidade, é necessidade, é integridade, é estilo, é religião, é
fé, é música, é comunicação, é tempo e espaço. A par da Ciência, a
Moda não se limitou a mudar o mundo, mas fez o mundo!
De tão abrangente que é a Moda chega a ser
até a merda de pullover de cachemira do senhor que se verborreia na televisão
dos meus pais.
Por cada um dos factos contastados podia dar
milhões de exemplos mas é para explicar esses "detalhes" que existe o
wikipedia. Eu não consigo condensar tanta informação neste blogue, até porque o
meu tempo é escasso e a Moda cá em casa, para além de ajudar a nossa evolução
como humanos, também ajuda a pagar contas.
Considerações
finais
Contextualizando as palavras de Oscar Wilde,
a citação acima enunciada é retirada do texto "The Importance
of Being Earnest, A trivial comedy for Serious People", uma
comédia teatral que satiriza a sociedade Vitoriana. A citação original é "And,
after all, what is a fashion? From the artistic point of view, it is usually a
form of ugliness so intolerable that we have to alter it every six months.
"
Para além de um notável escritor, Oscar Wilde
foi no seu tempo - e ainda hoje - considerado um ícone de Moda. Criador do
movimento estético "Dandismo" foi também um àvido defensor do
"Dress Reform Movement" no séc 19 que visava ampliar a liberdade
das mulheres vestirem calças, assim como permitir a mesma reforma de vestuário
no sentido inverso, ou seja, ampliar a liberdade dos homens vestirem
saias. No aforismo "Phrases and Philosophies for the Use of The
Young" Oscar Wilde defende "One should be a work of art,
or wear a work of art."
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