Este domingo é dia da Mãe em Itália. Domingo passado
foi em Portugal. E por mim podíamos correr o mundo todo, porque habituar-me a
receber ramos de flores aos domingos é coisa que não me custa nada. Ser Mãe também foi (e é) coisa à qual tive de-me habituar. Nunca
fui, nem acho que alguma vez seja, o género de mulher que nasceu para ser Mãe.
O meu instinto maternal não passa disso mesmo: instinto, pois nada que se relacione com
a minha filha foi sonhado, racionalizado ou reflectido. É ali tudo
instintivamente improvisado.
Sou uma Mãe despreocupada, sem macaquinhos no sotão.
Nunca me preocupou se a minha filha adormecia sozinha ou na cama connosco, não
fiz da amamentação um bicho de sete cabeças mas depois de um mês e meio não
tive paciência para mais, nunca desesperei com choros, não sigo ementas de
pediatra (prefiro ir ao sabor do paladar) e isto para dar alguns exemplos. Sou
uma adepta do bom senso, mas sempre aplicado de forma instintiva. Se sinto que
faz sentido, então sigo em frente. Fui eu que a pari, logo não existe, para já,
quem a conheça melhor!
Isto não quer dizer que não tenha dúvidas, mas são
raras as vezes que estou às araras até porque nem tenho paciência para andar a
bater com a cabeça nas paredes em relação a um bébé, que supostamente é uma
criatura infinitamente mais simples de perceber que eu. A minha Irene puderá
até revelar-se uma adulta complexa, mas com quase um ano a coisa não passa
muito para lá do sono, da fome, dos cócós, dos xixis, dos brinquedos e de uma
forma simples de comunicar todos estes seus desígnios.
Enquanto ela se vai transformando naquilo que será o
resultado da minha educação, também eu vou anexando novos inputs à minha
personalidade. Ser Mãe não mudou a minha génese, de forma nenhuma, continuo a
ser a mesma chata, nariz empinado, despreocupada e gozona de sempre. O que a
Irene fez foi tornar-me uma pessoa conscientemente disciplinada. Ou seja,
disciplinada com método, horário e acima de tudo consciente dessa disciplina.
Tenho mais cuidado com a forma como faço e digo as coisas, porque agora sou um
exemplo a seguir. Há um reflexo meu no espelho da alma da minha filha e isso
sim é uma enorme responsabilidade!
Ser Mãe fez-me olhar para mim como uma pessoa que
ambiciona mais força, mais empenho e mais conquistas. Observo mais, oiço mais,
penso muito, falo pouco. Nunca partilhei sentimentos maternais românticos
como "sou mais completa desde que sou mãe" ou "ser mãe foi a
melhor coisa que me aconteceu". Como adulto já me considerava uma pessoa
(de formação) completa antes da Irene nascer e não vou dizer que ter visto a
minha santa vidinha toda virada de pernas para o ar com a chegada de um bébé
tenha sido a melhor coisa que me aconteceu, porque não seria verdade.
A Irene veio-me aquecer as veias, isso sim! O meu
coração bate mais acelerado desde que ela nasceu. Ela conquista-me todos os
dias mais um bocadinho e eu já babo de paixão desmesurada por ela. Ser Mãe
acabou (quase) com a cold hearted bitch que vivia domesticada em
mim. Vou tendo os meus rasgos de egoísmo mas no geral sou mais tolerante, mais
compreensiva, permissiva e até simpática - vai-se lá perceber estas
merdas.
Ser Mãe é ser uma "versão revista" de
mim. A parte do "e melhorada" vê-se lá mais à frente, quando a
Irene tiver 30 anos e fôr o resultado de tudo o que de bom e de menos bom eu
tenha feito por ela.
Até lá vou sendo um projecto d'A Melhor Mãe do Mundo.
Isabel, gostei muito do que você escreveu sobre ser mãe. Sinceramente não tinha visto nada parecido, tão maduro, tão consciente, tão natural! As mães sempre me parecem tão na obrigação de uma busca de serem boas, perfeitas...
ResponderEliminarNão sou mãe e foi por opção, coisa difícil hoje. As vezes penso como seria e lendo o que você escreveu me deu uma boa demonstração de como eu seria: leve, suave e serena como você. Obrigada!
"Leve, suave e serena"...Cris, obrigada eu pelo fabuloso elogio que me fez!
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