24/05/2013

A profilaxia da crítica


Os críticos de cinema são gente lixada e perigosa. Eu sei, eu sei, EU SEI... não lhes devia ligar nenhuma, devia ignorá-los pura e simplesmente, mas estas línguas-viperinas apanham-me sempre distraída. Exercem em mim uma curiosidade voraz ao tolher-me a capacidade voluntária de evitar toda e qualquer referência cinematográfica crítica nos jornais e na internet. Rais'os partam!
Esta semana o veneno crítico atacou-me duas vezes e em qualquer uma delas poderia revelar-se uma mordida letal. O primeiro alvo foi La Grande Belleza de Paolo Sorrentino. 


Fiquei petrificada entre as críticas italianas e a noticiada ovação de 15 minutos pela plateia de Cannes - venha o diabo e escolha! Entrei na sala conformada com o destino negativo que estava a dar às duas horas seguintes da minha vida e sai da sala a pensar que a crítica que tinha lido se referia a um outro filme qualquer que não La Grande Belleza. E foi basicamente assim que Cannes e eu fizemos as pazes!
Fiquei feliz por ter sido uma vez mais surpreendida positivamente numa sala de cinema. La Grande Belleza é um mimo para quem gostar do cinema neo-realista dos anos 60/70 e Paolo Sorrentino é seguramente um digno sucessor dos gigantes Fellini e Rossellini. 

A segunda mordida crítica foi bem mais eficaz. Já andava a salivar há tanto tempo com os trailers do The Great Gatsby de Baz Luhrmann que assim que saíram as opiniões "alheias" lá foi a boa da menina a correr aos saltinhos e aos pulinhos.    


Mas a memória do La Grande Belleza bem fresca não me deixou abater e mesmo sabendo - segundo a famosa crítica - que o The Great Gatsby era uma cagada em três actos lá fui eu ontem para a sala sem medos. Afinal de contas, ninguém pode fazer asneira quando se trata de uma obra-prima da literatura americana cheia de referências visuais "cinem'apetecíveis". Mas à medida que as cenas do filme avançavam as opiniões maldosas soavam na minha cabeça em simultâneo. Resultado: desilusão pura e dura. Fiquei derrotada. Finalmente os críticos tinham justificada a destilação de veneno.
Mas esta manhã acordei com o filme na cabeça e não resisti ao impulso de reler excertos do livro de F.S.Fitzgerald. Ainda bem que o fiz. Percebi que Luhrmann se dedicou de alma e coração a fazer um filme duma história bigger than life. Seria impossível aumentar a genialidade de uma obra-prima! 


A probabilidade de eu ter aprendido a lição "Evitar as críticos de cinema a todo o custo" continua a ser baixa, mas a probabilidade do cinema continuar a surpreender-me é-lhe proporcionalmente inversa. E isso é uma notícia maravilhosa. 
De facto, se tivesse seguido os ditames destes parasitas nos últimos 10 meses teria ido uma única vez ao cinema. Teria visto o Lincoln de Steven Spielberg e...má'nada! Não ficaria propriamente mal servida mas teria perdido filmes fabulosos que decerto me ficarão bem mais vincados na memória.  

 

Sem comentários:

Enviar um comentário