Há um tempo que estou para escrever sobre a condução em Nápoles, mas a verdade é que nunca sei por onde começar. Mas vamos lá ver se consigo fazer-me entender em relação a esta matéria nas próximas linhas.
Para já vou-te situar no tema: imagina que todas as regras de trânsito (todas, todinhas, todinhazinhas, sem excepção) que aprendeste as deves executar obrigatoriamente de forma oposta. Já imaginaste? Óptimo. Assim fica mais fácil perceberes o que aí vem...
Ora então vamos lá aos exemplos práticos:
- Em Nápoles, as rotundas são redondamente iguais a todas as rotundas europeias. O mesmo se aplica às estradas em localidades, às vias rápidas e às auto-estradas. A não ser que haja um mercado a acontecer no meio da rotunda ou da estrada. Ou então um troço de auto-estrada que esteja cortado para obras, mas no qual se deve andar na mesma, pois é sempre uma excelente oportunidade para se fazer um pouco de todo-o-terreno. Bom, salvo uma lista de cinquenta ou sessenta excepções, em princípio as rotundas, as estradas em localidades, as vias rápidas e as auto-estradas são iguaizinhas às de qualquer país europeu. Sem tirar nem pôr.
- Entrar numa rotunda ou num cruzamento é uma questão de perspectiva. Já diz o Artigo 19º da Declaração Universal dos Direitos Humanos que o ser humano é livre de opinar e de se exprimir. Sendo assim, eu e tu, em Nápoles, somos livres de entrar numa rotunda em mão, em contramão, por cima da rotunda, a fazer slalom entre os carros, enfim um sem limite de situações. É tudo uma questão de perspectiva, opinião e, claro, expressão.
- Agradecer ou pedir licença é para os franceses. Caga nisso.
- Os semáforos tem três cores: vermelho, amarelo e verde. O significado das cores é universal e, como tal, em Nápoles essa universalidade também se verifica. Ou então caga nisso e passa depressa antes que o gajo do camião TIR colida contigo a 80 a hora dentro duma localidade.
- Indepentemente de se estar dentro ou fora da rotunda, tem prioridade quem se despachar mais depressa. Ou então quem apitar a buzina com mais fé.
- A prioridade não se aplica aos peões. Nunca, jamais, em tempo algum. Muito menos nas passadeiras.
- As bermas da estrada funcionam sempre como uma segunda via. Sempre.
- Os napolitanos são adeptos do lema "há questões de vida e de morte, mas o futebol é uma questão à parte". Isto significa que quando o Nápoles joga as estradas napolitanas estão vazias - tipo faroeste - e tu deves respeitar essa regra e ver o futebol.
- As motos são consideradas um meio de transporte familiar. Onde cabem dois, cabem sempre três ou quatro com as respectivas crianças, animais de estimação e/ou os 6 sacos de compras do supermercado. É uma questão de gestão de espaço.
- Se uma Ambulância se aproximar e alguns condutores se derem ao trabalho de lhe dar passagem (Burros!) aproveita para ires à boleia.
- Se a auto-estrada estiver com trânsito parado, podes sempre recorrer à alternativa emergência. Mesmo que estejas sozinho no carro acende os quatro piscas, apita com alma e grita que estás em trabalho de parto. Esta alternativa funciona tanto para o sexo feminino como masculino porque isto nos dias de hoje já se sabe, só não anda a parir, quem não quiser!
- Estaciona. Não te preocupes. Depois logo se vê o que acontece.
- As escapatórias de emergência das auto-estradas são sítios lindíssimos para se namorar. Há lá coisa mais bonita que a vista para todo aquele asfalto enquanto se é embalado pelo som dos carros a passar a 200 à hora!?
- Nas estradas de Nápoles TUDO é possível. Menos insultar os outros condutores...os franceses é que fazem essas coisas. Tento na língua!
- Os policias são amigos. Se não acreditares em nada do que aqui está escrito podes sempre confirmar com qualquer Carabinieri napolitano. Eles são os primeiros a infringir as regras de trânsito napolitanas.
De seguida apresento alguns locais onde a condução aparenta algumas semelhanças com a condução napolitana, mas que ainda assim têm de comer muita relvinha para lhe chegarem aos calcanhares. Meninos!
Bangkok, Tailândia
Ho Chi Min, Vietnam
Bombaím, India
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