22/02/2014

Considerações numa chuvosa manhã de sábado

Trazia pacotes de lenços de papel, fita adesiva tipo "tape" de várias dimensões e até guarda-chuvas pequenos. Toda esta mercadoria tinha-a num carrinho de mão. Apregoava na rua com uma voz claramente deficiente reflexo de um qualquer atraso físico evidente. Era um vendedor ambulante a vender como podia junto de possíveis compradores que como eu estavam abrigados da chuva à entrada de um edifício. 

Quando se aproximou de mim, a balbuciar um qualquer incentivo à venda, limitei-me a sorrir bastando dizer um "não, muito obrigada". O vendedor não insistiu. Seguiu de imediato para a senhora que estava dois metros à minha frente. Esta, seca e prontamente, lhe respondeu "e eu faço o quê com essa tralha? Tem santa paciência e não me incomodes!". Ele fez-se à estrada enquanto ela esconjunrava anjos e santos pela chuva que caía.


E é assim, com esta ligeireza de espírito, que tratamos quem julgamos inferior a nós. É assim que (mal)tratamos quem está a cruzar o nosso caminho naquele momento.


Mas ao final do dia, quando fazemos contas das desfeitas sofridas nas mãos dos que se julgam superiores a nós - que na nossa opinião nos tratam com um injusto desdém - é com cara de pau que ignoramos ser merecedores do mesmo tratamento que aplicámos de forma implacável àquele que seria o nosso próximo. 


Não me parece que tenhamos o direito de nos colocar nesta posição. Não é justo desprezar-mo-nos tanto...


De facto, não pudemos querer uma Europa, um país, uma cidade e uma vida melhor enquanto não tivermos a coragem de fazer melhor por nós próprios.

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