22/10/2012

As teias da razão


Ontem foi um daqueles raros - e malditos - dias, em que por qualquer estranha razão, as pessoas com as quais me cruzava se sentiam na obrigação de me explicar a crise italiana. Ontem fiquei a saber de uma assentada só que: "a soberania do povo em referendo é sistematicamente ignorada pelos políticos italianos - escandaloso o exemplo do uso da energia atómica - que abusivamente através de companhias privadas incentivam uma corrupção danosa e transversal a todos os sectores da sociedade italiana, onde se destaca a construção civil, num verdadeiro desbaste às gerações mais novas, ávidas consumidoras da nefasta influência da televisão, nomeadamente do Big Brother". Hmmm. Hmmm. Importa-se de repetir, por favor? 
Segundo um outro "opinador" a crise italiana é: "diferente da crise grega ou da portuguesa porque primeiro, a crise italiana acontece em Itália; segundo, a crise italiana acontece aos italianos; terceiro, por acontecer em Itália a crise italiana só acontece aos italianos. Porque é que estamos em crise? Porque sim!" Ah, então é isso!? Pois. Está certo.
Bom, passadas 24 horas desta "continuidade descontínua" ainda não percebi a ligação entre energia atómica e Big Brother, mas fiquei bastante esclarecida em relação à nacionalidade da crise em Itália. Enfim, isto até teria graça se não fosse tão dramático.
Já se sabe que a fome é inimiga do raciocínio, mas perigosa é também uma opinião sem fundamento, confusa e deturpadora. Seja em Itália, seja em Portugal, o que mais me atordoa é o atabalhoado de desinformação. Fala-se sem saber, sem perceber, sem questionar. Não interessa discutir a questão de forma racional, nem sequer ter uma opinião pessoal válida e lógica sobre a matéria, mas tão somente dizer nada com uma presunção ofensiva. Mandar "bujardos", portanto!
Posso até ser um exemplar fora de prazo, mas aprendi em pequenina a não dar a minha opinião sem ter a certeza do que dizia. E também aprendi que "porque sim" não é resposta!

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